COLUNA Wilmar Wurmath – TEMA O Cancelamento Humano

Não é um clone, tampouco um avatar, mas certamente surgirá um nome protetor para essa personalidade digital que está surgindo. Entre as necessidades pessoais e os temores públicos, estamos vivendo (ou criando) um caos, ou pelo menos um grande fervor com esse novo mundo que está surgindo. E, como tudo que emerge do caos, algo bom acabará por surgir — talvez algo muito melhor do que nós, seres humanos imperfeitos. Torcemos, ou melhor, lutamos para que isso aconteça.

Identificar e registrar os seres humanos ao nascer, atribuir-lhes nome, sobrenome e, ao menos, um número, é uma prática milenar. Isso visa tanto a nossa identificação quanto ao controle por parte dos governos, e ainda mais, para que possa ser aplicada como devidas punições, restringindo ou eliminando as liberdades humanas.

Hoje, para que um governo restrinja a liberdade de uma pessoa, é necessária a força policial. Num futuro próximo, bastará restringir sua identidade digital. E o cancelamento dessa identidade será, em essência, uma orientação à morte.

Prender uma pessoa — seja ela ladrão, traficante ou assassino — apresenta grandes dificuldades para o poder público. Além da força policial, são possíveis provas físicas concretas, um judiciário ativo e altíssimos custos. Na “pessoa digital”, porém, tudo será a favor do Estado, especialmente em regimes ditatoriais. As provas poderão ser digitais e as publicações também, com o risco de se fabricar provas e a dificuldade de contestá-las. Não será necessário manter o corpo físico ou manter cadeias; bastará controlar, restringir ou cancelar o ser digital. Se todas as nossas assinaturas forem apenas digitais, cancelar essa assinatura será muito simples, e seremos impotentes. Se todas as nossas interações forem digitais, o cancelamento dessa pessoa nos paralisará, nos aprisionará. Será uma prisão ao toque de uma tecla nas mãos do Estado.

Não podemos permitir que o Estado tenha em suas mãos o poder de criar e eliminar a personalidade digital, o nosso “EU 2”.

DOIS EM UM

O ser humano digital está nascendo e crescendo de forma veloz e invisível, sem rosto, sem corpo, sem alma, sem dores ou sentimentos. No entanto, ele será muito mais forte e essencial do que nosso atual ser de carne, ossos e doenças.

Diante de nossa tela, ainda somos o “EU”, mas além dela, no mundo lá fora, esse outro “EU” já existe, literalmente. Nosso “EU” físico poderá deixar de existir, dando lugar ao “nós” — um ser físico e outro digital.

Wilmar Wurmath 

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