Simpósio organizado pela Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso discutiu o etarismo, que é o preconceito contra uma pessoa apenas por causa da idade avançada. Os debates aconteceram no auditório Antonieta de Barros da Assembleia Legislativa.
“A discriminação pela idade impacta a vida do idoso, dia desses alguns alunos de uma faculdade caçoaram e riram de uma colega de classe porque estava velha fazendo faculdade com 40 anos. Os idosos sofrem preconceitos em meio às limitações do mercado de trabalho e dos locais que frequentam. Ele quer ocupar um cargo e lhe é negado por causa da idade, ou deixa de ser útil para uma função e é trocado por alguém com menor idade”, exemplificou Patrícia Klein, gerontóloga.
Klein destacou que comentários corriqueiros como “é velho, está esquecido”, “não pode usar esta roupa” ferem a pessoa idosa, levando-a à solidão e à depressão.
“O idoso pensa ‘poxa estou ficando velho’, ‘estou ficando lento’, ‘não consigo acompanhar meu filho’ e geralmente se isolam mais, veem que a vida é uma limitação para eles. O etarismo deixa o idoso deprimido, por isso a igreja é importante, a religião faz com que o idoso fique ativo e produtivo, ele não vai ter depressão, acha que Deus está no comando da vida dele”, ponderou a gerontóloga.
Para mitigar esses sentimentos negativos, a doutora Klein sugere a convivência com outros idosos, o lazer, o convívio com a família, amigos e encontros de finais de semana para aumentar a socialização.
“Precisam muito mais que uma conversa, precisam estar inseridos nas nossas vidas”, ensinou Klein, que enfatizou a importância de se orientar a família. “Filho bem orientado é idoso bem cuidado, com vida digna e o respeito preservado”.
Já a doutora Márcia Braga, geriatra, garantiu que todos fomos ou somos etaristas em algum grau, apesar do mal que o etarismo causa no relacionamento entre as gerações.
“O etarismo faz mal a cada um de nós, a começar pela saúde mental. Precisamos em primeiro lugar reconhecer que todos nós em algum momento da nossa vida fomos etaristas, é assim desde que o mundo é mundo e só agora as pessoas estão se dando conta de que o etarismo é horrível”, esclareceu a geriatra.
Márcia contou sua experiência com o etarismo e demonstrou como é difícil superar o preconceito contra a idade.
“Era um etarismo velado, encontrava uma pessoa no consultório e ela dizia a idade e eu dizia ‘nossa, 88 anos, imaginava que você tinha 75’. Gente, não façamos isso nunca mais, digamos ‘como você está linda aos 88 anos’, nunca minimizem a idade do outro, isso leva à constatação de que é desagradável chegar lá. Por isso o etarismo está dentro de nós, fomos educados assim”, reforçou.
A geriatra defendeu que a velhice é um processo sem data marcada para começar e diferente para cada indivíduo que o experimenta.
“Quando a velhice começa? Eu proponho as velhices, já que a minha é diferente da sua, é uma bagagem que ninguém tem igual, seja bagagem cultural, afetiva, biológica, social e econômica. E ainda tem as minhas escolhas, o que eu vivo hoje é resultado do passado e hoje estou construindo o futuro. Envelhecer é um processo pessoal individualíssimo e intransferível”, ensinou Márcia, acrescentando que os estudos mostram que quanto mais vivemos, mais inteligentes nos tornamos.
Para o deputado Sérgio Motta (Republicanos), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso, falta amor, por isso tanta violência física, psicológica, financeira, institucional, sexual, medicamentosa contra os idosos.
“Se as pessoas se amassem nem teríamos essa palavra etarismo, que é o preconceito contra a idade, mas a denúncia de abandono de idosos cresceu 855% em 2023 segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Visitei muitas casas acolhedoras de idosos e pude ouvir muito lamento, o abandono dos familiares que nem os visitam mais”, registrou o deputado.
Evento concorrido
Além das dezenas de idosos que quase lotaram o auditório Antonieta de Barros, o simpósio contou com a presença do deputado Mário Motta (PSD), vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso; do prefeito de Florianópolis, Topázio Neto; Claudinei Marques, vereador de Florianópolis; e Araújo Gomes, secretário de Segurança de Florianópolis.
Também prestigiaram o simpósio membros do Conselho Estadual do Idoso, de conselhos municipais de Tubarão, Penha, Gravatal, Florianópolis, Palhoça, Araranguá e Balneário Camboriú.
FONTE : REDE CATARINENSE DE NOTÍCIAS