A força-tarefa de médicos-veterinários de SC para evitar a entrada da gripe aviária no país

O segundo maior produtor de aves do Brasil, Santa Catarina reforça as medidas de prevenção contra a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). Médicos-veterinários de diferentes áreas de atuação estão unindo forças e conhecimento para evitar a entrada da doença em território brasileiro. Na última sexta-feira (3), a Secretaria da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural do Estado divulgou a NOTA TÉCNICA Nº 001/2023 de alerta máximo diante da possibilidade de disseminação da doença.

Na Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), onde atuam 214 médicos-veterinários, todos estão em alerta para atuar diante de uma eventual detecção da doença. No Instituto Catarinense de Sanidade Agropecuária (Icasa), os mais de 80 profissionais da medicina veterinária também intensificaram o trabalho de apoio aos órgãos oficiais com ações de conscientização junto a avicultura de subsistência e casas agropecuárias. E, nos centros de resgates e reabilitação de aves migratórias, os protocolos estão sendo ainda mais rigorosos.

“Desde julho do ano passado, com a implantação do novo Plano de Vigilância para Influenza Aviária e Doença de Newcastle realizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Cidasc vem cumprindo com tudo que é proposto em seus componentes. Claro que a partir de outubro, com a detecção de surtos de influenza na América do Sul, entramos em fase de alerta, mobilizando todos os entes privados e públicos envolvidos com o setor avícola, além das capacitações em conjunto com a Embrapa e demais universidades catarinenses, do corpo técnico de médicos-veterinários da Cidasc e também de empresas privadas”, explica Diego Torres Severo, Diretor de Defesa Agropecuária da Companhia.

Desde 2013, o MAPA possui um plano de contingência específico para a Influenza Aviária e Santa Catarina possui o Plano Estadual De Contingência De Emergências Sanitárias De Animais Terrestres, para que ocorra o acionamento imediato de todas as estruturas estaduais em um caso de influenza aviária, por exemplo. “O último plano de contingência feito pelo MAPA, realizado em Santa Catarina inclusive, foi para peste suína africana, porém pode ser adaptado para influenza aviária, pois ele foi confeccionado em sintonia com o preconizado pela Defesa Civil, que estabelece as cadeias de comando e o papel de cada setor envolvido”, completa.

Divulgação CIDASC/Associação R3 animal, Projeto Albatroz, Arquivo Pessoal Patrícia Serafini

Campanhas de comunicação direcionadas a outros públicos, como caminhoneiros e turistas por exemplo, estão sendo realizadas em Santa Catarina com intuito de conscientizar a sociedade que o problema não é somente do setor do agronegócio, mas de toda a população. Severo também esclarece que não há risco de transmissão por meio de consumo de alimentos de origem avícola. “Além do vírus não estar presente no Brasil, todo produto inspecionado é extremamente seguro para essa enfermidade, por isso não deve haver restrições quanto ao seu consumo”, assegura. Ele faz ainda um alerta aos médicos-veterinários autônomos e vinculados à agroindústria. “Estes colegas são parte vital do processo, de extrema importância ao fortalecimento da vigilância em conjunto com os órgãos oficiais. Além de serem os primeiros a terem contato com qualquer suspeita da influenza aviária, são capacitados para agir de maneira correta, acionando de imediato a Cidasc”, completa.

Em outra frente, os mais de 80 médicos-veterinários do Instituto Catarinense de Sanidade Agropecuária (Icasa) atuam preventivamente junto a avicultura de subsistência e em casas agropecuárias. “A atenção de toda a equipe de médicos-veterinários do Icasa está voltada para as propriedades rurais, especialmente aquelas que não possuem assistência técnica. Alertamos sobre a importância de manter as criações preferencialmente cercadas para que não haja contato com aves silvestres, assim como a ração ser fornecida em ambiente fechado, entre outros cuidados. Nos estabelecimentos agropecuários orientamos sobre os sintomas da doença, solicitamos aos balconistas que casos relatados de mortalidade de aves sejam levados à Cidasc”, afirma a Presidente do Icasa, a médica-veterinária Luciane de Cássia Surdi.

Divulgação CIDASC/Associação R3 animal, Projeto Albatroz, Arquivo Pessoal Patrícia Serafini

A introdução da doença em um país ou região ocorre por meio das aves migratórias, que, na maioria das vezes, são resistentes à Influenza Aviária e carregam o vírus por grandes distâncias. O contato direto ou indireto de aves silvestres infectadas com as aves domésticas é a principal fonte de surtos da doença na avicultura comercial ou de subsistência. A médica-veterinária Patricia Pereira Serafini, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) tem se dedicado nos últimos anos principalmente ao monitoramento das aves marinhas migratórias, através do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Aves Silvestres (Cemave).

Atualmente licenciada para o doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Patricia fala sobre a importância do trabalho de observação e monitoramento de aves migratórias no país, especialmente em um cenário tão preocupante.“Estamos todos em estado de alerta. Aves aquáticas, especialmente anseriformes (patos, marrecos, cisnes, etc.) e charadriiformes (aves limícolas, gaivotas, andorinhas-do-mar, mandriões, etc.) estão em um ambiente no qual a propagação do vírus é favorecida e são suscetíveis a surtos com alta mortalidade no caso de entrar no país cepas do subtipo H5N1, que evoluíram para formas virulentas que causam doenças graves em aves silvestres. Uma vez que um vírus como esse entra em qualquer país, as aves aquáticas e marinhas estão servindo como verdadeiras sentinelas de sua presença”, explica.

De acordo com a pesquisadora, é fundamental ressaltar que não há benefício a ser obtido na tentativa de controlar o vírus em aves silvestres por meio de abate ou destruição de ambientes naturais. Alterar ambientes naturais gera maior risco de dispersão de aves migratórias. Em vez disso, o alerta dado pelas aves silvestres serve para que sejam tomadas medidas para melhorar a vigilância e a biossegurança. Segundo ela, a influenza aviária promove um estado de alerta não apenas contra potenciais impactos para a produção avícola comercial brasileira, a introdução deste vírus até o momento exótico no país pode representar incremento no risco de extinção de espécies de aves silvestres.

Cuidados redobrados no resgate de aves migratórias em Florianópolis

Na R3 Animal, onde uma equipe multiprofissional atua no resgate, reabilitação e reintrodução de animais ao seu habitat natural, médicos-veterinários da equipe estão adotando cuidados especiais aos receber aves, mesmo sem quaisquer sintomas. “Antes mesmo de surgirem casos de Influenza Aviária na América Latina, quando iniciou o surto no Hemisfério Norte, começamos um protocolo de prevenção, biossegurança e biosseguridade para o atendimento de aves migratórias. Destinamos salas para isolamento individual, nas quais disponibilizamos materiais veterinários e EPI’s de uso exclusivo, além de direcionar sempre uma pessoa para o manejo da ave e limpeza e desinfecção rigorosa da sala. Os animais permanecem em isolamento por ao menos 14 dias, período médio de incubação do vírus, são monitorados quanto aos sinais clínicos e coletadas amostras para exames de rotina. Não tivemos nenhum animal com sintomas de H5N1, mas em casos suspeitos, a equipe está orientada para notificar imediatamente o SVO”, explica a médica-veterinária da Associação R3 Animal, Marzia Antonelli.

A recomendação da equipe é que todo o médico-veterinário que trabalhe com aves silvestres fique atento aos sinais clínicos das aves recebidas e que qualquer caso suspeito de influenza aviária de alta patogenicidade seja notificado imediatamente. “Sabemos da dificuldade da maioria das instituições em ter espaço suficiente, mas que sejam feitos esforços para tentar isolar da melhor forma possível aves suspeitas e redobrar a atenção com a biossegurança. Recomendamos também buscar informações atualizadas nos órgãos de fiscalização e ambientais. É importante que cada um faça a sua parte para a vigilância de H5N1 no Brasil”, finaliza a coordenadora e médica veterinária da ONG, Crisitane Kolesnikovas.

As profissionais, a veterinária ressalta ainda que é importante monitorar também os mamíferos selvagens, pois no atual surto observaram-se infecções com alta mortalidade em mamíferos marinhos, como os pinípedes (lobos e leões marinhos) em praias do Peru.

Divulgação CIDASC/Associação R3 animal, Projeto Albatroz, Arquivo Pessoal Patrícia Serafini

 

FONTE :RCN/REDE CATARINENSE DE NOTÍCIAS 

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