“A atual crise climática é em decorrência do aumento das emissões de carbono”, diz cientista em seminário no MPSC

O segundo dia do seminário “Mudanças climáticas: ciência, lei e ação para um futuro sustentável” discute as causas das mudanças climáticas e traz propostas à descarbonização do planeta. As professoras Regina Rodrigues e Marina Hirota e o Diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG, Daniel Marteleto Godinho, apresentaram o cenário atual e a necessidade de ações imediatas para reverter as causas dos desastres climáticos cada vez mais intensos. Também palestraram a Promotora de Justiça do MPRS Ximena Cardozo Ferreira o pelo Promotor de Justiça do MPMG, Leonardo Castro Maia e o Analista em Geologia do MPSC Ronaldo Bento Gonçalves de Almeida.

O segundo dia do seminário “Mudanças climáticas: ciência, lei e ação para um futuro sustentável” iniciou com o tema “Causas das Mudanças Climáticas e propostas à descarbonização”, em mesa presidida pelo Coordenador do Centro de Apoio Operacional Técnico do MPSC, Promotor de Justiça George André Franzoni Gil. O evento foi promovido pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) com o apoio do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (ABRAMPA) e da Escola do Ministério Público.

A mesa contou com palestras das Professoras Associadas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Regina Rodrigues e Marina Hirota e do Diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG, Daniel Marteleto Godinho. Em comum às três palestras, a compreensão da necessidade de ações imediatas para frear a emissão de carbono, apontada como principal causa das alterações climáticas que colocam em risco a sobrevivência humana no planeta.

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Regina Rodrigues falou sobre os eventos extremos no contexto das mudanças climáticas e apontou, logo de início, que a atual crise climática é em decorrência do aumento das emissões de carbono, que tem levado uma desestabilização do clima na terra. Segundo a pesquisadora, essa desestabilização resulta no aumento da temperatura média terrestre, que tem consequências diretas e indiretas à saúde humana – como aumento de doenças cardiovasculares e morte e maior propagação de doenças como a dengue.

O aumento da temperatura, da atmosfera, tem um outro impacto. Quando a atmosfera fica mais quente, evapora mais. Então, em lugares secos, tem mais evaporação, fica mais seco. Então, em lugares úmidos, ela tem mais umidade, as chuvas são mais torrenciais e intensas. “Isso não é bom para ninguém. Isso não é bom nas áreas urbanas, porque gera enxurradas e deslizamentos e enchentes. E não é bom para a agricultura também, com período de estiagem sem poder ter plantio e quando vem a chuva ela lixivia o solo torrencial e leva todo o solo produtivo”, constata.

Regina explicou, ainda, outros efeitos do aumento da temperatura sobre o oceano e os reflexos na economia. Segundo ela, a absorção do CO2 na água do mar gera acidificação dos oceanos, e isso corrói as conchas, o que impacta inclusive na produção de ostras em Florianópolis, que é 90% da produção do Brasil”, frisou, destacando também o avanço do mar sobre as áreas terrestres em função da expansão causada pelo aumento de temperatura.

“Afeta o agronegócio, a construção civil, o turismo, o transporte, a infraestrutura, a energia, a pesca. Afeta a nossa saúde. Gera uma insegurança hídrica, energética e alimentar, isso é um problema seríssimo. Tem solução, tem tempo, mas a gente precisa começar logo e rápido. Quanto mais a gente demorar para perceber isso, aceitar isso e reverter essa situação, pior vai ser para a gente. Quanto antes a gente fizer essa transição, mais tempo teremos para fazer uma transição justa, sem impactos econômicos”, finalizou.

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Marina Hirota deu continuidade ao tema, mostrando como a Amazônia – assim como outros biomas – é importante para o equilíbrio do planeta e apresentou sinais preocupantes de um não-retorno da situação atual. “O sistema terrestre, o sistema climático não tem fronteiras geográficas, não tem fronteiras. O que acontece em um lugar naturalmente pode afetar o outro, sem que a gente necessariamente saiba que isso vai acontecer”, disse ao iniciar a palestra.

Segundo Hirota, a Amazônia, assim como vários outros ecossistemas do mundo, regula o clima global. “O que acontece no oceano vai ter impacto no que acontece na Amazônia, o que que acontece na Sibéria, vai ter impacto o que acontece na Amazônia. E o que acontece na Amazônia vai ter impacto em vários lugares do mundo”, exemplificou, apresentando dados que mesmo dentro da própria Amazônia existem regiões que reagem de forma diferente umas das outras. “Existe uma heterogeneidade muito grande e esse ponto de não retorno não necessariamente é geral, ele é primeiro local. Essa mudança não se restringe só ao arco do desmatamento, mas a toda a Amazônia”, disse.

Ela aponta a escolha entre dois caminhos: um é o da incerteza, de ignorar os sinais de colapso e deixar a resolução para depois. “O outro caminho seria – temos o exemplo dos anos 80, que para controlar o CFC agimos coletivamente, e a Camada de Ozônio agradeceu. A gente não sabe exatamente o que vai acontecer, mas a gente pode efetivamente fazer alguma coisa. Tem tempo, a gente só não tem muito tempo, a gente não pode se dar ao luxo de errar”, completou.

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Daniel Marteleto Godinho, Diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG com a palestra intitulada “Transição energética e impactos climáticos: ações possíveis de implementação”, buscou mostrar o que as empresas podem fazer para contribuir com a agenda de combate às mudanças climáticas.

“Estamos aí diante de um desafio imenso, supercomplexo, e obviamente para desafios imensos e complexos não existem soluções simples. Na prática, podemos ajudar a combater as mudanças climáticas com energias renovadas, com mobilidade elétrica, com eficiência energética e com soluções digitais.”, resumiu.

A primeira frente de combate à mudança climática é a eficiência energética. Eficiência energética é menos consumo de energia, menos emissões. 25% do total da energia consumida no Brasil vem de motores elétricos. No mundo esse número chega a 30%. “Estamos falando de uma dupla contribuição para redução de emissões, na ponta, com menos consumo de energia e no processo produtivo, com menos materiais, menos emissões”, completou.

De acordo com Godinho, o mundo está avançando muito rapidamente na direção do crescimento das energias renováveis e o Brasil, particularmente, tem uma posição privilegiada nesse tema, pois já tem como base energia predominantemente limpa, de matriz hidrelétrica e já conta com quase 30% de matriz eólica e solar somadas, cujo limite teórico é de 60 a 70%.

A mobilidade elétrica é outro ponto ressaltado pelo Diretor da WEG. “Ônibus elétricos urbanos, por exemplo, caminhões elétricos urbanos, caminhões de entrega. Nós temos a cadeia produtiva inteirinha no Brasil, com exceção da bateria que vem de fora. E a gente tem uma oportunidade de sermos protagonistas também nessa agenda e darmos uma contribuição efetiva. Eu vou dar um exemplo para vocês aqui. Apenas o município de São Paulo tem 15 mil ônibus rodando. E já prevê a troca dessa frota gradualmente por ônibus elétricos”.

Godinho finalizou a apresentação mostrando as metas da empresa em relação à neutralização de carbono. “Traçamos metas de redução das emissões de gases de efeito estufa em 52% até 2030, e zerar até 2050. E, pessoal, nós estamos realmente muito satisfeitos em saber que nos dois primeiros anos do programa nós conseguimos reduzir em 25% a emissão de gases de efeito estufa do grupo o mundo inteiro”, informou.

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Consequências das mudanças climáticas

Ainda pela manhã, depois das causas foram discutidas as “Consequências das Mudanças Climáticas” em mesa presidida pelo Promotor de Justiça do MPSC, José Orlando Lara Dias, com palestras proferidas pela Promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Ximena Cardozo Ferreira; pelo Promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Leonardo Castro Maia; e pelo Analista em Geologia do Ministério Público de Santa Catarina, Ronaldo Bento Gonçalves de Almeida.

A Promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Ximena Cardozo Ferreira, foi convidada a falar das consequências das mudanças climáticas. Como Promotora de Justiça, Ximena é responsável pela Bacia Hidrográfica do Rio do Sinos, região que sofre, quase anualmente, com inundações provocadas pelas cheias que extravasam a calha original do rio e avançam sobre as áreas habitadas. No entanto, ao mostrar imagens de um condomínio de habitação popular do Governo Federal, totalmente inundado, Ximena questiona os presentes: é realmente o rio que invade a cidade ou foi a cidade que invadiu o rio?

“Nós estamos colocando as pessoas para morar dentro do rio. As casas populares foram construídas em região de planície de inundação, espaço que deve estar reservado para o movimento das águas. As áreas de preservação permanentes não são o que são porque estão na lei, mas, sim, porque cumprem de fato uma função ecológica. A ocupação desses espaços é o motivo de tantos danos e prejuízos sofridos por essas pessoas quase todos os anos. As ameaças podem ser naturais, mas os desastres são provocados pelo uso que nós fazemos do território”, disse a autora do livro “Inundações Urbanas”.

Para Ximena, as principais consequências são fruto do processo desordenado de urbanização. Segundo ela, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas, produzindo consequências desastrosas sobre o meio ambiente em função de fatores como a impermeabilização do solo, a expansão sobre áreas impróprias, a má gestão dos resíduos, os desmatamentos, os movimentos de terra, as alterações na drenagem, as infraestruturas inadequadas e, por fim, as mudanças climáticas.

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Dando sequência às apresentações, o tema “Emergências climáticas e desastres urbanos” foi abordado pelo Promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Leonardo Castro Maia, que em seu estado é Coordenador das Promotorias de Justiça de habitação e urbanismo. Maia reforçou a questão dos desastres urbanos como uma tendência relacionada ao processo desorganizado de urbanização, que é realidade em todo o país. Segundo ele, as cidades brasileiras são caracterizadas por uma ocupação não planejada que produz consequências que são agravadas pelo cenário de mudanças climáticas, gerando cada vez mais eventos extremos.

“Seja num evento de chuvas muito intensas seja em períodos prolongados de estiagem, essa vulnerabilidade provocada pela falta de planejamento urbano impede que esse sistema consiga passar por esses eventos e se recompor à situação de normalidade. A mudança do clima é um elemento chave nesse processo. É importante destacar que quando a lei de proteção e defesa civil fala de precaução, não se trata de esperar que algo aconteça para depois fazermos algo, pelo contrário, ela denota ação, precisamos agir”, afirma.

Nesse contexto, Maia destaca, ainda, a questão do negacionismo climático, que atribui aos eventos climáticos a condição de características naturais do planeta, isentando a atuação humana do processo. “Mesmo que não concordemos que o homem tenha influência direta sobre essas mudanças climáticas, precisamos fazer algo, no mínimo, para mitigar os efeitos danosos ao meio ambiente”, conclui.

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Encerrando os trabalhos na manhã de quinta-feira (15/03), o Analista em Geologia Ronaldo Bento Gonçalves de Almeida foi convidado a compartilhar com os participantes a experiência do Centro de Apoio Operacional Técnico do MPSC (CAT), em relação ao tema “Movimentos de massa, inundações e o aumento do risco em decorrência das mudanças climáticas”. De forma prática, Almeida expôs as experiências vividas pela equipe multidisciplinar do CAT, que é responsável pelos estudos técnicos desenvolvidos em apoio às Promotorias de Justiça.

“Nossa equipe de geologia atua, principalmente, na questão ambiental, avaliando as águas subterrâneas, a presença de nascentes, de cursos d´água e respectivas áreas de preservação permanente. Também analisamos possíveis contaminações de solo, mineração e avaliamos possíveis desastres por meio de solicitações de apoio relacionadas a risco. Nesses casos, analisamos os mapas temáticos em ambiente virtual e vamos a campo averiguar de perto as movimentações de solo, o risco de rochas se deslocarem, entre outras ações. São feições que precisam ser analisadas em campo para obtermos subsídios que permitam uma análise mais precisa do risco de movimentação. A partir daí encaminhamos o parecer técnico aos Promotores de Justiça para que prossigam com suas ações”, explica.

Confira como foi o primeiro dia de evento neste link.

 

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC

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