Em uma declaração que surpreendeu aliados e opositores, o deputado estadual Ivan Naatz, líder do governo Jorginho Mello na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, afirmou nesta semana que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro “não foi bom” para o estado catarinense. A fala, feita durante uma sessão plenária, repercutiu imediatamente e provocou debates acalorados entre parlamentares e a população.
Naatz, que integra a base de apoio de Jorginho Mello, governador que até pouco tempo era aliado declarado de Bolsonaro, justificou sua afirmação apontando falhas em áreas estratégicas como infraestrutura e saúde. “Santa Catarina ficou à margem de investimentos federais importantes. As rodovias continuam em estado precário, e promessas como a duplicação da BR-470 e da BR-282 foram apenas discurso”, criticou o deputado.
Uma ruptura política?
A fala de Naatz foi vista por analistas políticos como um possível indício de distanciamento estratégico do governo estadual em relação ao bolsonarismo. Apesar de Jorginho Mello ter sido um dos principais defensores de Bolsonaro no estado, sua gestão tem buscado uma aproximação maior com o governo federal atual, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva.
“É um movimento calculado”, avalia o cientista político Renato Bastos. “Santa Catarina é um estado que votou majoritariamente em Bolsonaro, mas o governo estadual precisa entregar resultados práticos, e isso pode demandar ajustes no discurso e nas alianças.”
Reação bolsonarista
A declaração de Naatz gerou indignação entre os bolsonaristas mais fervorosos. Deputados federais aliados do ex-presidente usaram as redes sociais para rebater as críticas. “Ivan Naatz deveria respeitar o legado de Bolsonaro, que foi o único presidente a governar com valores alinhados à maioria dos catarinenses”, escreveu a deputada federal Caroline de Toni (PL).
Grupos pró-Bolsonaro em Santa Catarina também organizaram manifestações contra o que consideram “uma traição” do governo estadual. “Estamos atentos a esse distanciamento. Jorginho e sua equipe precisam lembrar que foram eleitos com o apoio da base bolsonarista”, afirmou Maria da Silva, líder de um dos grupos.
Impacto na gestão de Jorginho
O episódio coloca o governador Jorginho Mello em uma posição delicada. Por um lado, precisa garantir os recursos federais para projetos prioritários no estado. Por outro, enfrenta o desafio de administrar uma base de apoio que ainda é majoritariamente alinhada ao ex-presidente.
Apesar da polêmica, Naatz reafirmou sua posição e pediu um “debate honesto” sobre o legado de Bolsonaro para o estado. “Não se trata de ideologia, mas de resultados. Precisamos ser críticos quando necessário, para que Santa Catarina avance”, concluiu.
A declaração levanta um questionamento fundamental: o bolsonarismo, que dominou a política catarinense nos últimos anos, está perdendo força? Ou as críticas de Naatz são apenas um reflexo de disputas internas e interesses de curto prazo? A resposta pode moldar o futuro político do estado.