O ato de escrever: seus prazeres e consequências

texto -Luis Bogo colunista

Ao começar este texto, percebo que há um equívoco no título da crônica, que se encerará em tom de desabafo: escrever não é ato, é atitude.
Cada frase exige esforço mental, e uma vírgula mal colocada pode mudar o sentido de tudo o que se pensou. Além disto, escrever promove fantasias, sonhos, desejos e reflexões próprias ou alheias que expõem o autor a honrarias ou zombarias, à galhofa ou ao profundo respeito.
Escrever é prazeroso para mim. Sempre foi. Seja quando transmito informações de importância a alguma comunidade ou quando me concedo o direito de ser quem eu sou, me exprimindo em versos, crônicas ou através dos meus livros (quando consigo publicá-los, porque os dois últimos ainda não encontraram editor).
Na condição de escritor que acabo de assumir (após sete livros editados e outros dois já diagramados para publicação), costumo ouvir: – Escreve aí para mim, pra você é fácil!
Mas, estes que me solicitam não sabem o quanto eu leio todos os dias e todas as noites para chegar aos textos finais e ‘fáceis’ que torno públicos, muitas vezes com erros que só me gritam aos olhos depois de impressos.
Não seria ideal que contivessem erros; mas, dado o conceito da falibilidade humana, erros podem se suceder no branco papel e, da mesma forma, nas nossas coloridas ou sombrias vidas.
Quanto à subjetividade da vida – se sombria ou colorida –, sempre restarão dúvidas, pois o mundo que é bom ao Manuel pode ser um mundo mau para o Juvenal. Então, cabe ao escritor ouvir seus Manuéis e Juvenais imaginários e decidir a quem dará razão sobre determinado assunto ou se não dará razão ninguém, expondo-se também às justas críticas e às pedradas das censuras.
Amo a beleza, sou hedonista, e acredito que ela possa transparecer em gestos, acordes, pinceladas e palavras, e não apenas nas feições de um rosto. Porém, é preciso que haja mais respeito por este ofício de escrever. A escrita é tradução do pensamento, e pensar pode ser tão exaustivo quanto carregar uma saca de café.
Tanto o escritor, o professor ou qualquer outro intelectual que não ganhe a vida a carregar tijolos para transformá-los em paredes, não podem ser tratados como vagabundos, apesar de suarem menos que o trabalhador braçal em suas tarefas.
Da mesma forma, devem ser remunerados de acordo com o tempo que se dedicam ao trabalho e à função. Assim como os médicos, que cumprem sete anos de faculdade, além da residência, antes de obterem seu CRM e os advogados, que precisam fazer o exame da OAB para exercerem as respectivas profissões, quem exerce qualquer outro trabalho intelectual merece os devidos reconhecimento e valoração, pois precisam atualizar-se a todo instante, conectando-se com o terrestre e o extraterrestre.
O mundo de quem escreve não se limita ao que pode ser visto apenas espionando por alguma janela indiscreta, porque as imagens que ele pode captar vêm de dentro das pessoas e podem se alongar telescopicamente.
Certa vez, ao me revelar escritor a um desconhecido, ele me respondeu: – Por que não vai trabalhar? – Calei-me, abismado com o nível de ignorância que não justificaria aprofundar a conversa.
Aos que sempre me acolheram; aos que me permitem ter casa, comida e roupa lavada, continuarei a trabalhar com afinco e gratidão, oferecendo sempre aos seus paladares as minhas melhores sopas de letrinhas.
Aos demais, oferecerei o preço justo. E não é porque amo Julieta que matarei Romeu. Entendam como quiserem ou desejarem.

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